Estes períodos eleitorais têm uma característica muito particular: para os partidos que têm exercido o poder nos últimos anos parece um retorno à casa de partida sem passar pela prisão (um dos protagonistas já lá está e outros deveriam estar). De facto, depois de, em experiências anteriores de governação, nos terem garantido que o problema das finanças públicas estava resolvido e que, resolvido isso, tudo seria mais fácil, voltamos sempre ao endividamento e ao défice das contas públicas. Algo não está a bater certo e a música é sempre a mesma: agora, votem novamente em nós pois a austeridade permitiu sanar as contas! Será?
Não, não é! Porque como reconhece Passos Coelho e a cartilha é a mesma de António Costa, nada mudou no essencial. As causas da crise mantém-se, o processo de financiamento da economia é idêntico, a banca e a finança continuam sem controlo, os paraísos fiscais sorvem os impostos de muitos países, o capitalismo tornou-se uma Dona Branca a viver à custa dos Estados e dos contribuintes desses mesmos Estados.
Já alguém ouviu os Partidos do centro a falarem da origem da crise, a reflectirem sobre os problemas que tiveram na base da austeridade, dos resultados concretos e efectivos dessa austeridade, de como se agravaram as desigualdades e de como vão atenuar essas desigualdades? Não! Não porque o interesse desses partidos não é uma sociedade mais justa e uma melhor repartição da riqueza produzida! O interesse é gastar menos com os pobres, dar menos aos remediados e poupar na democracia!
O governo actual destruiu o Sistema Nacional de Saúde, desorganizou a Justiça, dinamitou a Educação e a Ciência, mexendo nos seus alicerces e fragilizando o seu futuro, sempre sob a capa da racionalização e das reformas estruturais. Para reorganizar e reduzir custos não é necessário destruir. Só destrói quem quer outra coisa diferente! Quem não quer o Estado Social forte suportado por uma democracia plena.
Como se percebeu pela Grécia a democracia na Europa acabou pois o caminho que está traçado não se compadece com partidos com ideias diferentes e as regras são claras.
Já dizia Mendès France em 1957: “A abdicação da democracia pode ser conseguida de duas formas: ou pelo recurso a uma ditadura interna concentrando todos os poderes num único homem providencial; ou por delegação desses poderes numa autoridade externa, a qual, em nome da técnica, exercerá na realidade o poder político, que em nome de uma economia saudável facilmente irá impor uma política orçamental e social. A harmonização deve ser feita no sentido do progresso social, no sentido da recuperação em paralelo dos direitos sociais e não, como os governos franceses temem há muito tempo, beneficiar os países mais conservadores, em detrimento dos países mais avançados”. Tivemos a experiência da ditadura e agora temos a coesão e solidariedade europeias.
O verdadeiro voto útil é naqueles que, como o Bloco de Esquerda, querem a mudança e acabar com os poderes instalados, recusando as orientações impossíveis dos burocratas de Bruxelas.
Rui Pulido Valente
31 Agosto 2015