É normal ouvirmos nos Media falar do Interior, mas o que é o Interior? É dividir na vertical o país? É a fronteira com algumas centenas de kms entre o Litoral de Portugal e Espanha? É a área de Portugal que só é lembrada quando arde todos os anos?
O Interior é mais que uma área geográfica é uma dinâmica diferente, muitas vezes ligada a uma sobrevivência existencial, económica e social. O Interior contém vários problemas que muitas vezes não são entendidos e cuja metrópole quer influenciar, regular e legislar sem compreender as dinâmicas próprias da região. Quer regular e controlar, e bem, a plantação de eucaliptal mas esquece-se que existem aldeias e vilas que dependem desta indústria, aldeias e vilas que são votos. Assim, se é preciso regular e controlar, poderá o Bloco de Esquerda apresentar alternativa de subsistência de muitas famílias? Se não for apresentado alternativas será o próprio Bloco acusado de desertificar o Interior de Portugal !?!?
É preciso ouvir e falar com as pessoas que estão no terreno e não mandar e receber mensagens de emissários que por vezes deturpam a realidade... Os líderes doBloco têm de vir e estar no Interior, reunir-se com quem conhece a realidade e com quem a compreende. Deve mesmo entrar em diálogo e em debate com ideias políticas diferentes para assim chegar a um consenso para o interesse nacional. Veja-se um exemplo, o Bloco foi sempre defensor de causas ambientais, defendeu sempre a biodiversidade e a floresta autóctone, indo de encontro ao que muitos produtores florestais pedem em termos de medidas agroambientais, contudo quem se apresenta como o paladino dos interesses dos produtores florestais e até dos agricultores tem sido a Direita. Estas costas voltadas têm de acabar! Há uma nova geração de agricultores e de produtores florestais com consciência ambiental da biodiversidade com quem Bloco tem de encetar um diálogo e se possível apoiar o associativismo destes. Esta é uma das formas de o Bloco estar presente no Interior desenvolver um diálogo de consensos e ocupar o espaço político de outros partidos, sedimentado não apenas em teorias, mas sim com o conhecimento da realidade.
O Bloco tem de olhar também para a sua organização no interior e perceber que a realidade politica e social é completamente diferente dos grandes centros urbanos e de todo o litoral. A Democracia e a pluralidade democrática no Interior está em risco! As autarquias dominam vários setores, tais como: o setor social com os apoios atribuídos a associações e ao sector económico ficando as empresas e instituições dependentes das infraestruturas de apoio; e a Educação com a gestão de escolas primárias.
Esta concentração de Poder e Influência, cada vez maior, pode levar a um caciquismo e ao tráfico de influências que engole a Democracia e o Desenvolvimento Económico de certas regiões. Haverá interesse em que haja mais que um grande empregador numa região que não seja um Município?
O Bloco como defensor da Democracia tem vindo a par e passo a crescer e a reforçar a sua intervenção politica no interior, mas falta ainda da parte do Bloco um apoio político que se descrimine positivamente no apoio material e financeiro dessa intervenção.
Louve-se os esforços de um conjunto de camaradas dos Distritos do interior e de um ou outro dirigente nacional que têm demonstrado maior sensibilidade para o problema para que não sejamos mais abandonados pelos que só olham a política centrada no Parlamento Nacional e o resto é paisagem...
Não basta fazer-se um encontro anual sobre a realidade e as politicas para o interior, são importantes sem dúvida, mas sem o Bloco em conjunto a olhar o país como um Todo, e não essencialmente para os grandes centros urbanos, Tudo vai ficar na mesma.
O Bloco tem de conhecer o Interior e não passar receitas similares a que outros partidos já passam. Tem de ter uma resposta com entidade própria para as regiões do Interior. Essa entidade própria tem de passar pelo reconhecimento das potencialidades e recursos de cada região, ou seja, os recursos endógenos. Foram estes recursos que foram os motores de desenvolvimento do interior durante muitas décadas, associado obviamente a algumas infra-estruturas de a transporte, especialmente linha férrea. Estes recursos não foram só naturais foram também tecnológicos e de conhecimentos técnicos. Há vários em exemplos: Unidades fabris de fiação e têxteis localizaram-se junto as serras por terem recursos hídricos para fornecimentos de energia aos seus teares e da matéria prima como a lã; multinacionais do sector automóvel compraram unidades fabris portuguesas por causa dos seus recursos e conhecimentos tecnológicos na transformação de borracha; linhas de produção depickups instalaram-se em Portugal em locais onde já havia conhecimento técnico da metalomecânica e de siderurgia; Centrais elétricas foram construídas por causa da ligação a linha férrea e por estarem junto a Rios (recurso hídrico); Fábricas da cortiça deslocalizaram-se do litoral para o Interior para estarem perto da sua matéria-prima.
É necessário alicerçar uma estratégia para o Interior em quatro alicerces: Democratização e Transparência nas Autarquias; Investigação científica ligada ao Ensino; o Desenvolvimento Económico ligado a criação polos endógenos e a Regionalização.
É necessário uma revolução económica do interior mas acima de tudo uma revolução de pensamento em relação ao interior. Essa revolução do pensamento tem de começar sem dúvida alguma a partir do próprio Bloco de Esquerda pois sem ela não existe acção coerente e o País não é olhado como um Todo.