Share |

Vemos ouvimos e lemos

Caros ouvintes, nem a desculpa da crise justifica o aumento das desigualdades. Antes pelo contrário. O normal seria equilibrar a balança e obrigar aqueles que criaram a crise a pagá-la. Falo do setor financeiro que contribuiu para a crise e é o principal responsável que força os contribuintes a pagar para os salvar. Mas não é o que realmente acontece, e o que vemos é uma minoria cada vez mais rica e uma grande maioria cada vez mais pobre.

 Sem minimizar os problemas económicos e sociais, também vos quero dizer e há estudos que comprovam que o aumento das desigualdades são um perigo para a democracia. Não só se destrói a capacidade de intervenção, como até se agudiza negativamente a confiança das pessoas numa solução política. 

Enquanto a maioria das pessoas passa dificuldades, ouvimos e lemos notícias que relatam que Portugal é o 2º país onde a Mercedes tem a maior quota de mercado e que subiu 26% em 2013. É do conhecimento público que a crise nunca afetou as vendas dos automóveis topo de gama, porque será?

Em contrapartida o Estado já assumiu dívidas de Duarte Lima e Baía ao BPN, entre outros casos. Segundo o Tribunal de Contas, o total da dívida privada que foi transferida para o erário público desde 2012, ultrapassa os 23,5 milhões de euros. A fatura para os contribuintes não abranda e estes calotes não são provocados por aqueles de quem se diz que viveram acima das possibilidades, mas daqueles que vivem à nossa custa com contratos e rendas milionárias que lesam o estado e todos nós.

Todos sabemos por que razão se ofereceu ao BIC angolano, um BPN livre de ativos tóxicos e ficámos com as despesas e com os compromissos. Tudo isto tem a ver com os negócios milionários da SLN/Galilei em Angola e estes continuam impunes e o povo continua a pagar. Entretanto os negócios ruinosos e duvidosos persistem, agora com uma sociedade chinesa na privatização da Caixa Seguros. A Fosun passa a controlar 30% do mercado de seguros em Portugal e não deixa de ser uma coincidência que este grupo chinês, sem créditos na área dos seguros tenha uma Parceria com o grupo Carlyle, de Frank Carlucci condecorado por Paulo Portas em 11/03/2005.

E de condecoração em condecoração, Vítor Gaspar, Durão Barroso e José Luís Arnaut entre outros, lá vão levando os prémios por conseguirem fazer  vingar os interesses dos mais fortes castigando os mais fracos. E assim vai este país onde parece que andamos a dormir e não nos importamos de ser roubados, onde emigram cerca de 10 mil portugueses por mês porque o país desistiu das pessoas, persegue os rendimentos do trabalho, enquanto assalta o Sistema Nacional de Saúde e a Educação.

Mas como diz o poema de Sophia de Mello Breyner Andresen:

“Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”.

 

Podcasts / Audio