Caros ouvintes, enquanto o governo apregoava o sucesso baseado nas exportações e na redução do desemprego, eu, demonstrei numa crónica anterior que era tudo propaganda. Hoje, sabemos que a realidade é diferente; além do peso da dívida ter chegado ao ponto de ser impagável, a economia está cada vez mais comprometida e as exportações não são fruto do aumento do tecido produtivo, nem têm garantia de continuidade.
A verdade está aí, e só no distrito de Portalegre temos 12.289 desempregados e face a Dezembro de 2013 o desemprego aumentou 9,3%, num país em que quase metade dos desempregados passaram a inativos. Todos percebemos que com o interior abandonado, em especial o Alto Alentejo, as consequências da desertificação, envelhecimento e empobrecimento são agravadas com estes dados.
A este fenómeno com o nome de interioricídio, alusivo à forma como sucessivos governos exterminam o interior, a desigualdade de tratamento além de ostracizar o interior, também provoca desequilíbrios e problemas ambientais com consequências irreversíveis com um litoral desmesuradamente densificado que começa agora a dar sinais preocupantes.
Este é o resultado de um país sem visão estratégica, que ignora que somos uma porta de entrada e saída da Europa. O interior tem muitas potencialidades e recursos de excelência, mas o progresso no interior é travado por políticas restritivas e injustas. No Alto Alentejo, até a ferrovia foi desmantelada.
Quando se fecham serviços públicos que garantem a segurança das pessoas, que apoiam as pessoas nas suas atividades; quando se dificulta o acesso à saúde e educação, o interior tem de forçosamente ser pouco atrativo e perde população, comprometendo o progresso.
Faltam políticas de natalidade sérias, uma Regionalização com descentralização de serviços corrigindo as assimetrias como acontece em outros países, como por exemplo Inglaterra, França e Africa do Sul que investem nas regiões menos favorecidas e medidas de descriminação positiva a vários níveis como os benefícios fiscais.
Um governo responsável já devia ter promovido uma carta dos serviços públicos que distribua serviços públicos de qualidade, encontrado no debate com as forças vivas e que traduza as escolhas de desenvolvimento para o interior. Só para perceberem a importância desta medida, dou-vos o exemplo do Instituto Politécnico de Portalegre que em termos de despesa representa 0,9% no país. Em contrapartida movimenta cerca de 27 milhões de euros, o que representa 6% do PIB local e garante 915 empregos. Para perceberem melhor, por cada euro investido pelo Estado, o IPP devolve 3,5€; ao contrário, quando o governo corta um milhão de euros no IPP, está a reduzir 3,5 milhões na economia local. Por isso mesmo, o nosso desenvolvimento é muito afetado por políticas restritivas.
Aquilo a que assistimos é justamente o contrário e continuamos em sobressalto com o contínuo apetite pela Escola da GNR e da Coudelaria de Alter por outras paragens. Esse sobressalto não deixa de existir também em relação ao IPP, enquanto a aposta não for séria e não forem dadas as mesmas oportunidades a esta importante instituição.
Entretanto, continuamos a lamentar e a discutir estes assuntos nos cafés e supermercados enquanto se assiste ao avanço do litoralismo e do interioricídio.