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Campanhas

Caros ouvintes, eis-me chegada à minha última crónica desta temporada. Foi com enorme satisfação que durante meses, através deste microfone, vos transmiti o que me vai na alma e acreditem, muito ficou por dizer. Não posso deixar de elogiar esta rádio, pelo valioso trabalho executado por excelentes profissionais que ultrapassa fronteiras e quero agradecer a oportunidade que me deram de poder chegar a todos vós, ouvintes, com as minhas preocupações e os meus apelos.

É de apelos que, em jeito de despedida, vos falo hoje, numa altura em que todos nós já estamos a ser bombardeados com o folclore das autárquicas. Como todos sabem, os tempos estão difíceis para os que perdem os seus empregos, para os que têm pensões miseráveis e, em especial, para aqueles que já não têm qualquer apoio social. A fome assola crianças e idosos; muitos sentem sérias dificuldades em pagar os medicamentos, a renda da casa e garantir a água e luz. Em Portalegre, há pessoas aflitas porque já nem as fontes públicas lhes garantem o bem essencial que é a água.

É por isso que faço aqui o apelo a que todos sem exceção respeitem as populações. Todos sabem a situação em que estamos, por via do sequestro financeiro e por isso as pessoas não deixam de criticar os partidos que esbanjam neste regabofe eleitoral, quando a urgência é a emergência social.

Não pode valer tudo em nome da conquista do poder e, a subvenção que os partidos recebem, a meu ver, elevada, devia, ao menos, servir para informar a população das propostas políticas. Mas não é isso que se passa, já vi candidatos serem eleitos sem sequer apresentarem um programa.

Não é aceitável que os partidos com responsabilidade na situação do país esbanjem à “tripa forra”, ignorando a pobreza e a miséria cada vez mais patente na nossa sociedade, enquanto as populações são submetidas a duros e injustos sacrifícios.

É por isso que venho apelar à seriedade e à responsabilidade no sentido de se utilizarem as subvenções da campanha para informar e porque não, com um pouco de imaginação, apoiar os que mais precisam. E, o que não for gasto retorna ao Estado, evitando o esbanjamento de dinheiro.

Falando de campanhas eleitorais não posso deixar de fazer uma referência a uma proposta de lei na Assembleia da República para facilitar a criação de listas independentes de cidadãos. PSD, CDS, CDU e os Verdes chumbaram esta proposta, que visava dar condições de igualdade às candidaturas de listas de cidadãos às eleições autárquicas. Trata-se de uma questão de democracia e combate às desigualdades, com base do princípio de igualdade de tratamento entre as candidaturas.

O assunto pode passar despercebido a muitos, dado que, infelizmente muitos não votam e não se apercebem de quanto a nossa democracia precisa de crescer. O assunto é tão grotesco que os cidadãos independentes que se candidatem às autarquias, estão impedidos de apresentar símbolos e são sujeitos a numeração romana, saindo desta forma penalizados e descriminados.

Mas nesta altura os holofotes já estão virados para as candidaturas dos maiores partidos e nas grandes cidades – o resto é paisagem…

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