Nunca tive a veleidade de pensar que nestas autárquicas o BE iria ter sucesso. Tenho a consciência da falta de implementação e do escasso trabalho autárquico; tenho a consciência da desigualdade dos meios e, sobretudo, a noção de que é mais fácil eleger um vendedor de “banha da cobra” do que um verdadeiro político, honesto, com experiência e ideias progressistas.
Se falta muito ao BE para se afirmar como potencial vencedor, também, a meu ver, há muita falta de consciência e de cultura política. A confusão é tanta que alguns dos que contestaram os partidos, foram apenas substitutos dos mesmos; muitos dos que desmentiram os políticos foram tanto, ou mais demagógicos do que os acusados. Os símbolos encobertos e os movimentos dos “desalinhados” marcaram fortemente esta eleição. Como ponto positivo, o BE dispôs de mais uma oportunidade para dar a conhecer as suas propostas e reforçar a sua experiência em eleições Autárquicas. Mas a grande questão a pensar é, por que razão o BE não consegue tirar partido das más governações, apresentando-se como alternativa capaz da exigida mudança… É preciso agir!
Nunca me lembro de uma derrota tão pesada do PPD/PSD, nem de uma “vitória” tão expressiva no populismo catedrático de Paulo Portas, desviando as atenções de que está no governo a ajudar a destruir o país. Mas o que realço mais, nem é a falta de união à esquerda, quando se assiste em Sintra a um jogo de interesses partidários sem lógica política; a par do que já aconteceu várias vezes até com a CDU; a gravidade dos resultados está na abstenção e somos todos responsáveis!
Agora a realidade vai ser outra! As mudanças estão adiadas até 2017, as promessas serão repetidas com fervor e o folclore eleitoral regressará com o habitual esbanjamento de dinheiros públicos. Mas a verdade é que, em muitos casos, o cidadão atento e informado, revoltado não vai votar, contribuindo para o número negro da democracia – a abstenção. Os outros ficam deslumbrados com as promessas, os grandes outdoors e as caravanas ruidosas; rios de dinheiro dos contribuintes a escorrerem na “valeta”, quando há tantas pessoas a quem cortam o sustento em nome de uma crise que não teve expressão na campanha eleitoral.
O grande vencedor foi a abstenção, todos os partidos perderam e a democracia também. Os maiores responsáveis são aqueles que depois de eleitos, se esquecem dos eleitores e regressam depois com todo o cinismo a apelar ao voto. Sem referendos, nem democracia participativa, os partidos que têm governado as Câmaras, têm contribuído, e muito, para afastar os cidadãos da política. Nos próximos quatro anos vamos continuar a ouvir as queixas do costume, até daqueles que não apostaram na mudança. E creio que, a situação financeira, a gestão da água e os problemas sociais vão ser o ponto fulcral neste mandato.
Após os resultados eleitorais perguntaram-me se vale a pena andar a explicar às pessoas que é preciso mudança… Num país em que um movimento sustentado por um criminoso ganha a Câmara de Oeiras e em que o CDS diz que cresce, apesar de todas as irrevogabilidades de Paulo Portas, eu percebo porque me perguntam se vale a pena? A esta questão respondo: A minha derrota seria desistir!