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Um País às moscas?

O melhor é emigrar, já dizia o outro. E, sem dúvida, tem razão. Mas como é que a emigração pode ser uma mais-valia em termos colectivos?

                A meu ver, apenas quando o emigrante longe de casa, da sua família e do seu país, trabalha arduamente para ganhar dinheiro com o objectivo de mais tarde voltar à sua terra natal. Voltar, construir e investir no seu futuro por cá. Construir casa sem pedir empréstimos, educar e criar os seus filhos, trabalhar e até criar trabalho, envolver-se na comunidade local, enriquecendo-a. Este é, para mim, o objectivo último da emigração. Trazer riqueza lá de fora para cá.

                Não é novidade para ninguém que as aldeias, vilas e mesmo cidades do interior são quem mais sofrem (e sempre sofreram) com a falta de oportunidades. Praticamente obrigando os seus habitantes a migrarem, tanto com “e” como com “i”.

                Ponte de Sôr não é exceção e, muito menos, a minha aldeia, Foros de Arrão. E eu, como filho de emigrantes e com mais família emigrada desde sempre, sei muito bem os prós e os contras deste acto de sobrevivência. Saudades, isolamento, distância.

                Há meia dúzia de anos, apenas a contar de cabeça, contabilizei mais de 50 pessoas oriundas da minha freguesia a viverem e a trabalharem em Jersey, um paraíso fiscal do Reino Unido. Cinquenta pessoas numa pequena freguesia representam um pouco mais de 5% do total de habitantes (isto sem contar com os meus outros conterrâneos distribuídos por outros países da Europa!).

                Com conhecimento muito próximo da situação, há um par de anos que algumas famílias voltaram do estrangeiro para a terra onde cresceram. Agora com filhos, casa construída e toda paga, vieram com vontade de viverem junto das suas famílias, trabalharem e criarem os filhos no mesmo local onde foram criados pelos seus pais.

                Vieram, instalaram-se, habituaram-se ao nosso modo de vida e começaram a trabalhar onde houvesse trabalho. E falo de trabalho e não de emprego. Emprego foi o que deixaram noutro país juntamente com outra qualidade de vida, segurança a vários níveis e, acima de tudo, estabilidade.

                Corajosos ou loucos por voltarem?

                Um pouco de ambos, talvez, mas esse é o sonho de qualquer emigrante: voltar à terra um dia.

                O que tem acontecido entretanto? Nos últimos meses várias famílias tomaram a difícil decisão de abandonar o seu país e ir viver para sempre para outro país. Não falo apenas de 1, 2 ou 3 casos. Há muitos, muitos mais.

                Com eles vai o desenvolvimento e rejuvenescimento das freguesias, cada vez mais abandonadas e desertificadas.